Mais de mil passageiros do Titanic, o famoso transatlântico RMS que teve seu fim trágico em abril de 1912, ainda não foram contabilizados após afundar nas águas geladas do Atlântico Norte. O naufrágio resultou na perda de cerca de 1.500 vidas, mas apenas cerca de 300 corpos foram recuperados posteriormente.
Acredita-se que a grande maioria dos que morreram tenha afundado com o navio. Mas para onde foram esses corpos e por que não foram recuperados? O arqueólogo e historiador marítimo James Delgado, vice-presidente sênior da SEARCH Inc., lançou alguma luz sobre isso em uma entrevista recente. Ele discutiu o mistério contínuo dos passageiros desaparecidos do Titanic e os desafios da arqueologia subaquática.
Delgado explicou que, embora seja concebível que alguns vestígios de restos humanos ainda possam estar dentro do Titanic, é difícil confirmar sua presença devido ao conhecimento limitado sobre as condições do oceano profundo. "Mas esta é uma ciência sobre a qual sabemos pouco, especialmente no oceano profundo", disse ele, apontando as complexidades envolvidas nessas investigações.
Fotos do naufrágio mostraram cenas sombrias, incluindo pares de sapatos no fundo do oceano, sugerindo os locais de descanso final das vítimas. "Há pessoas lá dentro. O arranjo do casaco e das botas sugere fortemente que alguém descansou aqui", disse Delgado ao New York Times, enfatizando as evidências indiretas encontradas no local.
James Cameron, diretor do filme Titanic, de 1997, também comentou as descobertas. Ele relatou ter visto roupas e sapatos durante suas explorações do naufrágio, o que "sugere fortemente que havia um corpo lá em algum momento". Apesar dessas observações, Cameron reconheceu: "Não vi restos humanos".
Nas profundezas extremas do oceano, fatores como a alta pressão, a ausência de luz, as baixas temperaturas e a ação de microrganismos e animais no fundo do mar contribuem para a decomposição dos ossos humanos. A pressão, muitas vezes superior a milhares de quilos por metro quadrado, pode acelerar a desintegração de materiais orgânicos, incluindo ossos. A baixa temperatura, por sua vez, modifica as taxas de atividade enzimática que normalmente contribuiriam para a decomposição em superfícies mais quentes. Além disso, bactérias especializadas em ambientes anaeróbicos podem decompor os restos orgânicos, e pequenos animais marinhos, como crustáceos e peixes abissais, podem consumir os restos, deixando pouco ou nada para trás. Portanto, em condições de extrema profundidade, mesmo os ossos podem não sobreviver com o tempo, desaparecendo no ambiente marinho.
O ambiente frio e escuro do oceano profundo onde o Titanic repousa levantou possibilidades sobre a preservação de restos mortais. O próprio navio, situado a uma profundidade de cerca de 3.800 metros, cria um habitat subaquático único que retarda os processos de decomposição. Robert D. Ballard, que descobriu o naufrágio do Titanic em 1985, especulou que áreas profundas dentro do navio, como a sala de máquinas, ainda podem abrigar restos preservados. "Não me surpreenderia se corpos altamente preservados ainda permanecessem em um local específico entre os destroços", observou Ballard, sugerindo que algumas partes do navio poderiam proteger os materiais dos processos usuais de deterioração marinha.
O local do Titanic não é apenas um naufrágio, mas um local de sepultamento, o local de descanso final para centenas de pessoas cujas histórias terminaram nas águas frias do Atlântico. Cada pedaço de destroço, cada artefato pessoal, oferece um vislumbre comovente das vidas perdidas em um dos desastres marítimos mais famosos da história. No entanto, a história completa do que está dentro do Titanic continua a iludir historiadores, arqueólogos e cientistas enquanto eles montam o quebra-cabeça do trágico naufrágio do navio.
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