O que tragicamente aconteceu com o golfinho que "se apaixonou" por um treinador durante um experimento

O que aconteceu tragicamente com o golfinho que "se apaixonou" por um treinador durante um experimento

Na década de 1960, a NASA financiou um experimento incomum que prometia explorar a comunicação entre humanos e golfinhos. O projeto, liderado pelo neurocientista John Lilly, buscou criar uma ponte entre as espécies, mas acabou se transformando em uma história cheia de desafios éticos e um final trágico. No centro dessa narrativa está Margaret Howe Lovatt, uma jovem sem formação científica, mas apaixonada por animais, e Peter, um golfinho-nariz-de-garrafa que atraiu a atenção mundial.

Margaret se juntou ao projeto quase por acaso. Determinada a trabalhar com animais, ela pôde participar da pesquisa de Lilly, que ocorreu em um laboratório nas ilhas do Caribe. Lá, o "Dolphinarium" foi construído, um espaço inundado de água onde humanos e golfinhos podiam interagir de perto. Margaret concordou em viver por três meses neste ambiente, compartilhando cada momento com Peter, um golfinho macho. O objetivo era ensiná-lo a reproduzir palavras em inglês, imitando a voz humana.

A rotina era intensa. Margaret passou dias inteiros conversando com Peter, usando repetições e estímulos positivos. O golfinho, por sua vez, mostrou curiosidade e uma conexão visível com o treinador. No entanto, um comportamento inesperado começou a interferir no experimento: Peter desenvolveu uma forte atração sexual por Margaret. Os avanços do animal interromperam as sessões de treinamento, levando a equipe a permitir que ele passasse um tempo com duas fêmeas. Quando essa solução se mostrou impraticável, a própria Margaret assumiu a tarefa de aliviar manualmente os impulsos do golfinho. Ela descreveu o ato como algo natural, sem constrangimento: "Não foi desconfortável, desde que não fosse áspero. Foi como coçar uma coceira e seguir em frente."

Lovatt refletiu sobre seu tempo com o golfinho em um documentário em 2014 (BBC).Lovatt refletiu sobre seu tempo com o golfinho em um documentário em 2014 (BBC).

A publicidade em torno dessa prática, no entanto, gerou polêmica. Em 1978, a revista Hustler publicou detalhes sensacionais do experimento, manchando a reputação da pesquisa. O financiamento da NASA foi cortado e o destino dos golfinhos era incerto. Peter e os outros animais foram transferidos para um laboratório improvisado em Miami, instalado em um prédio abandonado. Lá, as condições eram precárias: tanques menores, pouca luz natural e espaço inadequado para criaturas acostumadas ao oceano.

Algumas semanas após a mudança, Margaret recebeu um telefonema de John Lilly. Peter havia morrido. Segundo ele, o golfinho "cometeu suicídio". A explicação veio de Ric O'Barry, fundador do Dolphin Project, que detalhou como os golfinhos podem decidir parar de respirar: "Eles não respiram automaticamente como nós. Cada respiração é um esforço consciente. Se a vida se torna insuportável, eles simplesmente param de respirar."

Margaret, ao relembrar o episódio, expressou alívio misturado com tristeza. Ela disse que não se arrependeu de seu tempo com Peter, mas criticou as condições do laboratório em Miami: "Eu estava mais preocupada com ele naquele lugar do que com a separação. Pelo menos ele não estaria mais sofrendo." O fim do experimento marcou não apenas a perda de Peter, mas também levantou debates sobre os limites da ciência e o tratamento dos animais em cativeiro. A história, ainda pouco conhecida, continua sendo um capítulo intrigante - e sombrio - na busca para entender a inteligência não humana.

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